segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sobre as fases de indefinição na vida


Olá amigo leitor, tudo fixe? 

Hoje venho aqui com o objectivo de falar sobre aquelas fases de desnorte pelas quais penso que, mais ou menos todos nós, de uma forma ou outra, quer o admitamos quer não, passamos (acredito não ser o único a passar por esse tipo de fases).

São fases em que é difícil ter clareza de visão a longo-prazo. Suspeitamos que o rumo que a nossa vida segue não seja o certo para nós mas, por outro lado, falta-nos uma alternativa viável. Ou, pode ser que se apresente uma alternativa viável mas que comecemos a duvidar dela, perguntando-nos se aquilo será o melhor para nós ou ainda, pode acontecer que essa alternativa seja altamente aliciante por um lado, mas por outro apresentar um elevado potencial de perda a outros níveis que, de uma forma mais ou menos consciente, não estejamos dispostos a suportar ou, até mesmo, olhemos com pânico essa possibilidade.

Falando de um exemplo pessoal, para que se torne mais simples a compreensão do que vimos analisando, há pouco mais de um ano, talvez por volta de Março de 2010, encontrava-me sem emprego. Havia acabado um curso do qual não gostei muito, por alturas de Dezembro de 2009 e andava em Março a terminar um projecto de Certificação em Coaching. Terminado esse projecto, encontrei-me perante um deserto. Por um lado, não gostara do curso que tirei e por outro, a realização do projecto de Certificação em Coaching que eu acreditara ser uma vocação, acabou por não se revelar tão compatível com as minhas apetências como pensava. Nessa altura, encontrava-me perante a necessidade de criar um caminho mas não estava a ser capaz de fazê-lo. Poderia sempre trabalhar como Nadador-Salvador no Verão, mas até iniciar a época balnear faltavam ainda 3 meses o que era tempo a mais para estar sem trabalhar.

Surgiu então a possibilidade de trabalhar na Ryanair, como comissário de bordo. As condições gerais agradaram-me, em termos financeiros, em termos da possibilidade de viajar, em termos de duração de contrato e, por isso, apresentava-se como uma experiência importante. No entanto, com o decorrer do curso, apercebi-me de que não era bem aquilo que eu queria e que, quanto mais se aproximava a altura de partir para a Suécia, base onde fora colocado, mais me sentia triste por ter de abandonar o nosso magnífico país. No entanto,  reprovei no último exame, eram por esta altura 3 de Maio, faltando um mês para o início da época balnear.

A época balnear, entretanto, chegou, e lá fui eu cumprir o meu profundo desejo de trabalhar como Nadador, que era precisamente o que queria. Foram três meses com um propósito de vida, que me elevaram em termos anímicos e espirituais.

No entanto, finda a época balnear, retornei ao vazio, à falta de propósito. Essa falta de propósito profissional foi substituída pelo propósito de encontrar um emprego, tendo ido a uma grande quantidade de entrevistas e tendo entregue uma boa quantidade de CV’s numa boa quantidade de locais diferentes. Por algum motivo que desconheço, não consegui encontrar o tal emprego, lançando-me por vezes num vazio de propósito difícil de aguentar, bem como, no medo de o tempo estar a passar e eu não estar a trabalhar o que é sempre um mau sinal para entrevistadores empresariais.

Chegado a finais de Janeiro, resolvi meter-me num curso de formação de formadores (CAP) com o intuito de criar um propósito enquanto não arranjava emprego. Entretanto e, finalmente, chegado a Abril, consegui um estágio profissional numa empresa metalomecânica, produtora de Betoneiras. Mas, um dia bastou para que percebesse não estar minimamente motivado para ali ficar, devido a uma sensação de sufocante claustrofobia. No dia seguinte nem sequer apareci na empresa, indo lá na 4ªFeira para me despedir. Nessa altura, os meus pais não acharam qualquer piada à minha atitude e disseram que teria de abandonar Aveiro para vir para a Figueira, onde não iria estar a dar despesas desnecessárias, uma vez que não estava a fazer nada (pensam eles).

E assim foi. Vim para a Figueira, onde estou desde início de Abril e, apesar de não ter sido a mudança dos meus sonhos, não deixou de ser uma mudança e todas as mudanças têm em si a capacidade de nos sacudir da letargia e ausência de propósito que tal sentimento acarreta.

No entanto, durante este quase ano e meio após o término do meu curso universitário, um propósito sempre se manteve firme e intacto. E esse foi o de meditar diariamente, o de fortalecer-me diariamente, o de manter-me o mais calmo, pacífico e conectado possível, o de pesquisar livros e informação na Internet, acerca de como descobrir o meu propósito e lidar com o vazio provocado pela ausência de um claro propósito de vida. Se neste tempo não consegui arranjar trabalho em Aveiro, que me permitiria continuar a frequentar o Centro de Meditação e manter-me na minha zona de conforto (“segura”, ainda que insatisfatória), foi porque realmente nunca foi essa a minha vontade, simplesmente nunca tive coragem de admiti-lo porque sei que ninguém aceitaria tal justificação, nem eu próprio a aceitava.

Felizmente, iniciarei o meu trabalho como Nadador-Salvador dentro de poucos dias (a não ser que a vida decida trocar-me as voltas), começo no dia 15 deste mês, o que me confere um propósito com 3 meses de duração, regressado a Aveiro, às magníficas ondas da Costa Nova. Entretanto, inscrevi-me no programa de estágios internacionais Inov-Contacto e estou preparado para ir trabalhar para o estrangeiro, seja para onde for, que me proporcione perto de um ano de propósito remunerado, após o propósito de nadador ter terminado. 

No entanto, algo que nunca farei, é deixar de meditar e de aprender a lidar com as travessias do deserto da vida, por vezes longas, em que temos de ser capazes de ser pacientes, tenazes e de nos mantermos atentos, de preferência escrevendo regularmente sobre o que se passa dentro de nós, caso não tenhamos o privilégio de conhecer um Ser Humano suficientemente generoso para aceitar a nossa temporária incapacidade de discernimento a longo-termo e com quem possamos conversar acerca disso. Porque apenas quem passou por isso e o enfrentou está em verdadeiras condições de saber o extremo sofrimento que tal situação pode provocar, bem como, a nunca desprezível, possibilidade de crescimento interior a vários níveis. Quanto maiores as ameaças maiores as oportunidades, já dizia o sábio Albert Einstein!

Afinal de contas, se não conseguimos visualizar nem criar um propósito, talvez signifique que é precisamente nessa situação que precisamos de estar. É precisamente isso que temos de aprender a enfrentar. É precisamente isso que é suposto estar a acontecer. É precisamente isso que a vida quer para nós. E porque razão digo isto? Simplesmente por ser isso que está a acontecer!

Sem comentários:

Enviar um comentário