sexta-feira, 4 de março de 2011

O que vem a ser a meditação


Boa tarde a ti, sejas quem fores, espero que estejas o mais feliz possível. E se não estiveres tão feliz quanto possível, significa que tens um ego a controlar os teus pensamentos, sentimentos, hábitos, instintos e sexualidade, ou seja, um ego a controlar os teus 5 centros de energia. O Ego é uma entidade maléfica, que suga as nossas energias vitais, impedindo, consequentemente, qualquer espécie de bem-estar duradouro e é bom que saibamos que é ele a causa causorum de toda a infelicidade que tu ou qualquer outra pessoa possa estar a experienciar.

O Ego alimenta-se de dois momentos temporais: passado e futuro, ambos inexistentes, porque apenas existe um local existencial, ou seja, o momento presente. E aquilo que nos impede de sentir felizes no momento presente é, unicamente, a incapacidade de estar totalmente presente no momento. Se a nossa mente vagueia pelo passado ou fantasia acerca do futuro, a infelicidade é inevitável. Mesmo que, aquilo que pensamos sobre o passado ou especulamos acerca do futuro seja positivo, mais cedo ou mais tarde se transformará no seu oposto uma vez que a natureza do Ego é a dualidade, “quente-frio”, “alto-baixo”, “positivo-negativo”, “dia-noite”, “masculino-feminino”, etc, etc. Chegados a este ponto de compreensão, resta-nos compreender que a verdadeira felicidade não é dual, não é conflituosa e assenta sempre, por esse motivo, na integração dos opostos, no centro, no caminho do meio, no caminho do equilíbrio, que apenas se consegue através da plena vivência do momento presente, da plena aceitação do momento presente, apresente-se ele tal como se apresentar, a penas a aceitação total e integral possibilita sentir aquela paz que se encontra fora do tempo, mais além da mente, dos sentimentos e dos hábitos, aquela felicidade que todos nós, num ou noutro momento, através de um ou outro meio, experienciámos. E sempre que experienciámos essa paz inefável, uma coisa é certa: não existia em nós qualquer tipo de expectativa, qualquer tipo de recordação. A mente e o Ego encontravam-se quietos porque, doutro modo, esse estado de paz e beatitude não teria ocorrido. Esse estado pode ter ocorrido enquanto pintavas, ou enquanto jogavas futebol, ou enquanto apanhavas ondas, ou enquanto mergulhavas na refrescante água do mar num dia de Verão, ou enquanto observavas um maravilhoso pôr-do-sol, ou enquanto jogavas ping-pong, ou enquanto lias um livro cheio de verdade e sabedoria, ou enquanto escrevias sem pensar, apenas deixando que os dedos batessem as teclas ao ritmo da intuição, ou enquanto assistias a um concerto da tua banda favorita, ou enquanto comias um delicioso gelado numa esplanada, ao final da tarde, contemplando o ceano e o por-do-sol, ou enquanto realizavas mergulho numa água cristalina e nadavas atrás dos peixes ou, enquanto meditavas, simplesmente sentado e satisfeito por existires e respirares. Enfim, tenha sido o que tenha sido, não interessa, uma coisa é comum em todas estas experiências: nada mais interessava para além daquele momento, daquele eterno presente em que o tempo pára, não o tempo cronológico, mas o tempo psicológico. Momentos que, por mais anos que vivamos, são inesquecíveis, precisamente porque só se pode esquecer aquilo que acontece no tempo e esses momentos acontecem fora do tempo. A este tipo de experiência chamo de meditação. Para mim, meditação é todo e qualquer estado através do qual nos encontramos integralmente presentes no momento, em que nada mais interessa além do momento. A principal dificuldade que te pode surgir é, precisamente, quando nos questionamos: como posso produzir intencionalmente este tipo de momentos? Porque aí surge uma coisa que se chama de expectativa. E a expectativa vem da mente, vem do Ego, que quer agarrar no tempo algo que, em si, não pertence ao tempo. E qual a solução para isto, então? A solução é a transcendência do Ego, a transcendência das expectativas, porque apenas por aí poderemos voltar a aceder às experiências meditativas. Essas experiências apenas podem surgir quando não esperamos que elas aconteçam e o máximo que nos é possível fazer é, precisamente cultivarmos conscientemente a presença no momento. E essa presença no momento pode, segundo o entendo, ser conseguida de duas maneiras diferentes: (1) Meditação e (2) Contemplação. Passo a explicar, resumidamente, as duas técnicas.

(1) Meditação: Consiste em sentar comodamente numa cadeira, numa postura erecta, ou seja, com as plantas dos pés bem assentes no chão, as costas bem direitas (encosta bem o cóccis ao fundo da cadeira), as mãos relaxadamente colocadas sobre as pernas, os olhos fechado, uma musiquinha bem suave de fundo, se gostares, certifica-te de que não terás distracções humanas, telemóvel desligado ou silencioso e estás em condições de iniciar a prática da meditação. Advirto-te, porém de uma coisa. Ser-te-á muito difícil meditar se não tiveres acesso a um relaxamento mínimo do corpo. Se estiveres num estado de nervosismo ou tensão, convém que, antes de te sentares a meditar, te libertes desse estado através de uma caminhada, uma corrida, natação, seja o que for que possa libertar-te da tensão física. O corpo deverá encontrar-se minimamente relaxado. A partir daí as coisas tornam-se muito mais fáceis.

Então, reunidas as condições, a primeira fase será a da atenção consciente da respiração. A respiração é real, encontra-se no momento presente (ao contrário dos pensamentos que são irreais, subjectivos, fantasiosos e fora do momento presente, originando emoções negativas e prejudiciais e que, por isso, têm de ser transcendidos) e, conduzir o seu processo de forma intencional e consciente vai produzindo gradualmente um estado de paz e relaxamento. Um estado que surge naturalmente da presença no momento. A técnica consiste apenas em inspirar da forma mais lenta e profunda que te for possível e expirar da forma mais lenta que te for possível, com a única finalidade de observar esse processo (nada de pensar no processo, simplesmente, realizá-lo e observá-lo). Colocar uma separação entre o respirador e a testemunha observadora da respiração (a nossa Alma / Consciência, aniquiladora dos processos disfuncionais da mente e do Ego). Se surgirem pensamentos (o que é muito comum) apenas tens uma coisa a fazer. Voltar ao elemento integrador, ou seja, a atenção consciente da respiração. Vê a respiração como a bóia de salvamento constante dentro da prática da meditação. No entanto, nada de violência no retorno à atenção da respiração. Os pensamentos querem a tua atenção, querem que tu te identifiques com eles, para te fazerem abandonar a prática e deverás contorná-los de uma forma suave e tranquila. Uma atitude do género: “está bem pensamentos, obrigado pela vossa boa intenção, mas agora tenho outras coisas para fazer, até logo, tudo de bom para vós”, tal como farias com qualquer pessoa chata que encontrasses na rua e te quisesse prender para falar sobre banalidades que nada te interessam. Retorna à respiração, olha internamente para o pensamento e, muito suavemente, retorna à atenção consciente da respiração. Observa também, o maravilhoso estado de paz que se vai instalando (só de pensar, estou a ficar em pulgas para ir fazer uma prática, que é o que vai acontecer em seguida, eheh).

Para já, esta simples mas, poderosa, técnica de meditação é suficiente e garanto-te que, se a realizares tal como te expliquei aqui, começarás a sentir-te muito mais em paz, cada vez com maior capacidade para te colocares no momento presente, seja em que situação te encontrares (no trabalho, a andar na rua, no supermercado, com os amigos, etc) o que nos leva à segunda técnica.

(2) Contemplação: é basicamente a mesma coisa que a meditação mas, processa-se de olhos abertos. Há muitas situações em que não podemos dar-nos ao luxo de estar com os olhos fechados, nomeadamente quando nos encontramos fora de casa. No entanto, sempre que pudermos sentar-nos comodamente nalgum sítio, podemos respirar lenta e profundamente, tal como na atenção consciente da respiração, e procurar, com o olhar, captar o máximo de elementos que se encontrem dentro do nosso campo de visão. Faz o seguinte: sentado comodamente numa cadeira, ou num banco de jardim, ou no escritório, tal como foi explicado, procura olhar em frente, para um qualquer ponto fixo, procurando incluir o máximo de objectos apreensíveis dentro do teu campo visual. Procura fazer a mesma coisa enquanto estiveres parado em pé, ou a andar na rua, procura observar o que está a tua volta, procura apreciar tudo, dar o devido valor a tudo à tua volta, observando em simultâneo tudo o que se passa dentro de ti, sentindo o peso do teu corpo nas pernas, sentindo a roupa contra o corpo, procurando integrar o máximo de elementos possível na tua experiência da realidade, na tua experiência do momento presente.

Bem, para já, era o que tinha para partilhar contigo. A aplicação destas técnicas, diariamente, como quem lava os dentes ou toma banho, permitirá que o relaxamento se instale na tua vida, tornando-a muito melhor e mais prazerosa, que é o que todos queremos. Em breve, conto voltar para partilhar o que sei, para que possas apreciar a vida extraordinária que é tua por direito. Bem hajas por seres alguém que reclama a sua felicidade por direito. Um grande abraço da minha parte.