sexta-feira, 20 de maio de 2011

A necessidade de ter razão


Olá caro leitor ou leitora, espero que te encontres num estado interior extraordinário, único tipo de estado que faz a vida valer verdadeiramente a pena. Refiro-me a estados de alegria, paz, amor, sabedoria, altruísmo, enfim, aquelas emoções sem oposto!

O assunto que hoje aqui me traz e que me motiva a escrever é uma tendência altamente comum na nossa sociedade e que é a necessidade de ter razão. Todos nós conhecemos este tipo de pessoas com quem é difícil conversar e, bem mais difícil ainda chegar a um consenso. São pessoas que nunca dão o braço a torcer em nada, são pessoas que ficam totalmente descontroladas quando alguém opina diferente delas, enfim, são pessoas 100% narcisistas, 100% orgulhosas, 100% egocentradas e, por isso, pessoas altamente desagradáveis, com quem é impossível ter uma conversa que decorra suavemente, descontraidamente.

Um exemplo claro deste tipo de pessoa são os políticos (e, também, todos aqueles que são enormes apreciadores da política e de debates políticos, vibrando à frente do ecrã quando um dos elementos consegue “destroçar” os argumentos do seu adversário) em que esta tendência é cruamente visível nos seus debates. Por simples curiosidade e por ser um curioso relativamente ao comportamento humano, estive a ver um debate levado a cabo na Sic entre Francisco Louçã e Paulo Portas. Além de ser uma situação envolvendo uma energia altamente negativa e desagradável (colocando o chacra do meu plexus solar a girar negativamente), não vi em nenhum dos intervenientes uma REAL preocupação com as questões do país, mas por outro lado, uma enorme e claramente visível preocupação consigo mesmos, com a sua reputação e com as maravilhas que têm feito no parlamento em nome das causas sociais que tão ferranhamente defendem. A clara prioridade era deitar abaixo o adversário, sugar a sua energia ao máximo. Constatei o brilho no olhar de Franscisco Louçã, olhando o seu adversário com um olhar francamente sanguinário, procurando apontar todas as falhas possíveis para, de seguida, lhe cair em cima como se de um lobo feroz se tratasse. Este tipo de tendência mostra bem que não existe preocupação com a verdade das coisas, não existe preocupação com a criação de medidas reais para resolver as situações sociais mas, unicamente, usar argumentos, mais ou menos aleatórios e sempre passíveis de serem refutados pelo adversário, que levem a convencer o auditório e o adversário da razão implícita nas argumentações utilizadas.

Ora, já a filosofia ensina que verdade é diferente de validade. A verdade é aquilo que é, e contra factos não existem argumentos. No entanto, como na política não se usam factos (e, por isso, é uma prática que não pode ser levada a sério pois não se baseia na verdade), só se utilizam argumentos, mais ou menos válidos, mais ou menos falaciosos, impossíveis de comprovar por parte de qualquer espectador, a menos que se encontre altamente bem informado. São apenas teorias, divagações, conjecturas, julgamentos que, por mais bem intencionados que sejam, têm apenas o objectivo de derrotar psicologicamente o adversário, deixando aquele que vence completamente inchado de orgulho, como um pavão que se embriaga com orgulho diante de um espelho que, neste caso, são os aplausos de um auditório que partilha dessa mesma tendência da necessidade de ter razão, confirmando o dito popular de que “galinhas com a mesma plumagem, concordam entre si”!

Então mas, como lidar com esse tipo de pessoa que quer sempre ter razão e a quem apenas interessa isso de ter razão? Em primeiro lugar há que perceber que é isso mesmo que a pessoa quer. Em segundo lugar, há que ir um pouco mais fundo na questão. Porque aqui o que está verdadeiramente em causa não é a pessoa ter razão ou não. O que ela verdadeiramente quer é experienciar o bem-estar proveniente da vitória psicológica. E o bem-estar são emoções positivas, é energia. Portanto, o que essa pessoa quer mesmo é energia uma vez que, ao obter essa energia vai sentir-se melhor consigo mesma. Por isso, deduz-se logicamente que se a pessoa necessita de energia é porque carece dela, ou seja, estando num estado de fraqueza e vulnerabilidade, que não é capaz de preencher através de métodos mais saudáveis. E digo métodos mais saudáveis porque essa pessoa preenche-se com energia que rouba dos outros, daqueles sobre quem consegue levar a melhor, do ponto de vista do ter razão. E sempre que ganhamos à custa dos outros, esse bem-estar é irreal porque o outro estará sempre à espera de uma oportunidade de se vingar, de uma maneira ou de outra. Por isso, qual seria a solução para que esse tipo de pessoa pudesse encher-se de energia sem precisar de roubá-la a outros? 

A solução seria essa pessoa dedicar-se a actividades que a enchessem de energia tais como o estudo da espiritualidade, a prática da meditação, as caminhadas ao ar livre, enfim, fazer algo que a enchesse de energia! Se todas as pessoas adoptassem procedimentos específicos com a finalidade de se encherem de energia obviamente que o mundo seria um local muito melhor para se viver, em que ninguém necessitaria de roubar energia aos outros através de estratégias de manipulação, esquemas, entre outras tretas do género.

No entanto, é muito difícil ajudar essas pessoas pelo simples facto de que elas não têm grande vontade de serem ajudadas, uma vez que se acham donas e senhoras da verdade absoluta, jamais admitem que uma outra pessoa possa estar na verdade, jamais abdicam de discutir até chegarem ao ponto de a outra pessoa lhes dar razão. Estas pessoas apenas têm possibilidade de despertar desse sono conscientivo se, por acaso, começarem a ficar sozinhas e tiverem a sorte de perceber ou de alguém lhes dizer de uma forma clara e contundente que o seu padrão psicológico de sempre quererem ter razão as torna pessoas altamente desagradáveis e com quem não se pode conversar. Porque doutro modo é muito difícil aperceberem-se disso! É como um cão a correr atrás da própria cauda. Por isso, uma vez que elas não mudarão facilmente o seu comportamento, a solução, caso tenhamos que lidar com elas (o que é provável porque esse tipo de pessoa abunda por aí) é, precisamente, dar-lhes razão. A nós, que sabemos onde está a verdade do assunto, e que não precisamos de ter razão para nos sentirmos bem uma vez que esse bem-estar está garantido desde o início, podemos dar à pessoa essa pseudo-vitória que lhe sabe tão bem e que a nós não causa qualquer prejuízo.

Mas, atenção a um ponto! É preciso distinguir a necessidade de ter razão da inevitabilidade de dizer a verdade. Há situações menores em que não existe qualquer necessidade de lutar com os argumentos alheios mas, se o assunto em questão for importante, soubermos o que é verdade relativamente a esse assunto e ouvirmos alguém a dizer arrogantemente as maiores barbaridades, nessas circunstâncias, sinto-me na obrigação de intervir e repor a verdade, custe o que custar. Exemplificando, se eu pratico meditação diariamente, conheço o processo, conheço as modificações que produz em mim e no estilo de vida e ouço alguém dizer disparates como que, é preciso ser budista ou jainista ou hinduísta para poder meditar eu tenho que chamar a pessoa à verdade uma vez que a conheço, e conheço porque a experimentei por mim mesmo e não posso permitir que essa pessoa induza em erro os que estiverem à volta. Aqui, não há desejo de ter razão para ficar por cima mas sim o anseio de divulgar a minha verdade para que a verdade vença naturalmente. E acredito que a verdade vence sempre!

Por hoje, é tudo, um grande abraço e sê sempre autêntico, custe o que custar!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O fingimento


Olá caro leitor ou leitora, espero que esteja tudo fixe contigo!

O assunto que hoje me inspira a escrever é o fingimento, ou seja, a tentativa de esconder a verdade própria (tendência passiva conhecida vulgarmente como timidez) ou a tentativa de mostrar algo que não se é mas que se quer aparentar (tendência activa conhecida vulgarmente como gabarolice ou fanfarronada).

Este parece-me ser um tema muito importante de abordar, uma vez que este site trata do resgate da face original, sendo o fingimento um obstáculo forte que pode travar-nos em muito nesse caminho do resgate da face original, nesse magnífico processo que nos conduz de volta a nós próprios e, portanto, à paz interior e autêntica felicidade que é aquilo que todos nós queremos (pelo menos assim penso)! Alguém muito sábio, cujo nome não recordo, mas o que aqui mais interessa são os princípios e não quem os profere (além de que me livra de pagar direitos de autor), disse em certa altura algo do género: “É impossível mostrarmos uma cara para a multidão e outra cara para nós próprios sem que acabemos por nos questionar sobre qual será a verdadeira!”. Ou seja, o fingimento conduz à divisão e a divisão conduz à infelicidade, o que não é lá muito fixe!

Como em tudo na vida, o fingimento tem causas, tem razões de ser e tem algumas vantagens imediatas das quais quem finge não está disposto a abdicar com facilidade. 

Em primeiro lugar, é necessário entender que o fingimento nasce da nossa educação familiar e cultural. Desde que nascemos que somos forçados a fingir muitas coisas. Fingir que gostamos do pai e da mãe, fingir que gostamos da avó, fingir que gostamos de coisas que detestamos, somos ensinados a reprimir a raiva em situações em que ela é verdadeiramente legítima, ou seja, quando a nossa integridade é pontapeada por aqueles que, supostamente, deveriam amar-nos, obrigados a comer quando não temos fome, obrigados a dormir quando não temos sono, obrigados a ir à escola estudar matérias que, pessoalmente, sempre considerei asquerosas e mortificadoras, embora, da forma como a sociedade existe e está organizada, não haja alternativa pois, doutro modo, seríamos conduzidos à alienação social o que não é lá muito aconselhável. 

E isto leva-nos a outro ponto: o fingimento nasce do medo de sermos autênticos. Fingimos porque tememos ser rejeitados, maltratados ou prejudicados de algum modo, caso não o façamos o que conduz a outra questão importante: para sermos verdadeiros e autênticos temos de estar dispostos a ser rejeitados, maltratados ou prejudicados de algum modo por parte de quem nos rodeia, podendo chegar ao ponto mais prejudicial possível, que é morrer. Para sermos autênticos e, portanto, verdadeiramente felizes, temos de estar dispostos a morrer por isso!

Temos de compreender que ou se vive uma vida autêntica ou se vive uma vida de treta. Viver uma vida autêntica passa, não somente, por ir atrás do que queremos mas, numa primeira fase, livrar-nos do que nos prejudica e é preciso identificar isso antes de ser possível abandoná-lo. E aquilo que nos prejudica deve ser abandonado. Concretizando, se ver futebol nos prejudica ao ponto de criar estados emocionais altamente perversos, devemos a nós próprios o favor de abandonar essa actividade; se estar com certas pessoas a quem, muitas vezes erroneamente chamamos de "amigos" mas, na prática, são pessoas que nos puxam para baixo sistematicamente, ironizam das nossas ideias, desencorajam-nos de ir atrás dos nossos sonhos (por inveja, diga-se) temos de ser corajosos e abandoná-los; em suma, ter a coragem de abandonar uma a uma as influências negativas, começando pelas piores e acabando nas melhores que, mesmo essas, se formos à sua essência, não são grande coisa. Falamos aqui de libertação da alma, resgate da face original, o que lhe quisermos chamar, que é um assunto bem sério!

Quando falo do que não queremos fazer, falo de certas coisas que são para nós absolutamente mortificantes, coisas em que não acreditamos nada, tais como fazer um trabalho que se odeia para ganhar a vida. Mas atenção! Fazer um trabalho de que não se gosta nada para ganhar a vida pode ser necessário durante algum tempo (se, no momento, não houver mais nada, que fazer?). Mas aqui, o mais importante mesmo é não fingir acerca disso. Fazer o melhor que se pode nesse trabalho mas, não nos enganarmos a nós mesmos a respeito disso. Dizer para nós mesmos algo do género: é verdade que eu odeio este trabalho mas, neste momento, ainda não me é possível arranjar outro melhor, por isso, vou aguentar o melhor possível aquilo que estou a fazer e, ao mesmo tempo, estar atento a outras oportunidades. O que importa mesmo é não nos iludirmos porque a verdade é sempre libertadora; um local magnífico para se viver!

Nesse sentido, importa tomar várias medidas para se evitar cair no fingimento, entre as quais vou partilhar algumas que eu mesmo tive de adoptar e que continuo a adoptar:

  • Escrever frequentemente sobre o meu dia ou sobre situações em relação às quais nutra sentimentos negativos. Através dessa escrita, importa despejar todo o veneno que sentimos sobre seja quem for, sobre seja o que for. Afinal de contas, ninguém vai ler isso mesmo permite-nos libertar das emoções negativas sem consequências! 
  • Afastar-nos do máximo possível de pessoas e situações em que sintamos dificuldade ou receio de ser autênticos. Por outras palavras, pessoas que não nos aceitam como somos e que, por isso, não estão à altura de fazer parte das nossas vidas!
  • Evitar bater no ceguinho sob o pretexto de ter que ser autêntico e dizer a verdade. Há situações em que se impõe drasticamente que digamos o que nos vai na Alma. Mas, em circunstâncias menores, se o nosso objectivo for simplesmente o de “ficar por cima” e impor o nosso ponto de vista, não vale a pena a chateação!
  • Passar uma grande quantidade de tempo a sós! Grande parte do fingimento deriva do medo da rejeição e da consequente solidão que isso possa acarretar. Se aprendermos a apreciar a solidão, bem como, a autenticidade que a acompanha, estaremos em óptimas condições para nos tornarmos autênticos uma vez que a pior consequência da autenticidade será a de ficarmos sozinhos e sem amigos; e nesse caso, já estaremos habituados!
  • Meditar diariamente. Dissemos já em circunstâncias anteriores que a meditação nos leva de volta a nós mesmos, leva-nos a tornar íntimos connosco mesmos, ou seja, conscientes de quem somos. Para além do bem-estar, vigor e tranquilidade que tal prática proporciona, passamos a precisar muito menos dos outros para nos sentirmos bem e, como tal, em muito melhores condições de desfrutar da solidão, aquela consequência tão temível que se pretende evitar através do fingimento!
  • Encontrar uma quantidade razoável de actividades das quais se possa desfrutar em solidão tais como: tocar guitarra, realizar caminhadas, falei já da meditação, corrida, bodyboard, natação, escrita, leitura, entre outras!
  • Ir sozinho a locais e eventos onde não conheçamos ninguém permite-nos agir de uma forma altamente livre e descomprometida, o que é maravilhoso, pois permite-nos conversar com todo o tipo de gente, sem aquela opressão típica provocada pelas rodinhas sociais, altamente fechadas a novos conhecimentos! 
Através da aplicação deste tipo de medidas acontece que nos vamos tornando cada vez mais autênticos e felizes, cada vez mais livres e cada vez menos disponíveis para realizar fretes. Quanto mais autênticos e mais felizes formos, mais poderemos atrair e ser atraídos para as condições, para as pessoas, para as situações, para as actividades que realmente poderão preencher a nossa Alma e que, por isso, são as certas para nós.

Um grande abraço e obrigado por investires o teu tempo a ler este post!