quarta-feira, 17 de abril de 2013

A importância de ver a vida como um filme


Boa noite querido leitor (a)!

O assunto que me traz por aqui hoje, talvez mais de um ano após a última postagem é o da importância de ver a vida como um filme. É algo que considero essencial para ter uma vida o mais tranquila e relaxada possível. Tranquilidade e relaxamento parecem-me estados interiores que tornam a experiência de viver bem agradável (pelo menos, assim penso). E parece-me também que esse estado de tranquilidade e relaxamento se tornam bem difíceis se cometermos o «erro» de nos identificarmos com as diferentes circunstâncias que vão ocorrendo ao longo do dia, sendo que muitas delas são tudo menos agradáveis.


Por exemplo: pensemos numa circunstância em que víamos um filme. Nesse filme, muita coisa ocorre, agradável ou desagradável. Se cometermos o erro de nos identificarmos com as diferentes circunstâncias do filme, essa identificação vai levar-nos para diferentes estados emocionais, mais ou menos agradáveis, de acordo com o teor dos acontecimentos. No entanto, se ao longo do filme, pudermos manter plena consciência de que aquilo que se passa nada tem a ver connosco, deixa de haver qualquer razão para que esse tipo de oscilação emocional (geradora de intranquilidade) ocorra. Mantemo-nos como meros espectadores, desidentificados e não-judicativos.

A meu ver, este mesmo espírito pode (e deve) ser transportado para a vida de todos os dias. Ao caminharmos, ao estarmos relaxadamente sentados, ao andarmos de autocarro, ao andar de comboio, ao estarmos na praia, ao darmos um passeio pela cidade, seja onde for e seja a fazer o que for, podemos adoptar esta postura de observadores interessados do filme da vida. No filme da vida podemos ser simultaneamente personagens, observadores e realizadores, consoante a nossa vontade e conveniência. No filme da vida existem múltiplas personagens, situações e contextos. E, da mesma maneira que nos é possível, ao estarmos a ver televisão, mudar de canal quando o que é transmitido não nos agrada, na vida podemos também transferir o foco da nossa atenção de coisas que não nos agradam para outras que nos agradem mais (de acordo com a amplitude da nossa consciência acerca do que nos agrada mais e do que nos agrada menos).

Esta última ideia, prende-se com a questão do livre-arbítrio. Em cada momento e situação temos uma determinada amplitude de apreensão e captação da realidade. Imaginemos uma situação em que vamos dentro de um comboio, deslocando-nos para determinada localidade. Nesse contexto, estamos expostos a vária quantidade de estímulos: a paisagem que vislumbramos de fora da janela, a conversa das pessoas do lado, o mau cheiro da pessoa  que vai do meu lado, a mulher bonita do assento da frente, o revisor que chega para picar o bilhete, o comboio de alta velocidade que passa em sentido contrário, enfim, vários exemplos poderiam ser dados. E garantidamente que nenhum desses estímulos tem absolutamente nada a ver connosco. Situados naquele contexto, esses estímulos surgem independentemente da nossa vontade. E podemos ver qualquer desses estímulos que surgem como se de diferentes canais de televisão se tratassem. Quando não gostamos do programa, mudamos de canal, para encontrar um que nos agrade mais. Da mesma maneira que, no exemplo do comboio, temos o livre-arbítrio de mudar de assento se não gostamos da pessoa que vai ao nosso lado, de olhar para fora da janela, se a pessoa que vai na nossa frente for demasiado feia, de ouvir música caso se verifiquem conversas desagradáveis ao nosso redor, de dizer ao revisor que ele já picou o nosso bilhete anteriormente (e nos encontrarmos sem bilhete, eheh) ou, em último caso, sair numa qualquer estação intermédia, caso o ambiente vivido dentro do comboio seja algo de insuportável. Por outras palavras, mudando o foco da nossa atenção, mudamos também a nossa realidade. Mudando a nossa realidade, mudamos o estado interior. Mudando o estado interior, modificamos a nossa qualidade de vida, tornando-a mais agradável.

Para conseguir esta mudança, convém, por fim, diferenciar dois conceitos, já diferenciados de forma implícita ao longo do que temos vindo a debater. Esses dois conceitos são o contexto e o conteúdo. O contexto, seria o estar dentro de um comboio, correspondente a uma circunstância permanente. O conteúdo seria composto por todos os estímulos existentes dentro do comboio, correspondentes a circunstâncias transitórias. Estar consciente do contexto permite atrelar a nossa consciência a algo de permanente, produzindo paz e tranquilidade. Por outro lado, focar a nossa consciência no conteúdo implica atrelá-la a circunstâncias transitórias, instáveis e impermanentes, produzindo intranquilidade (por se acreditar que os acontecimentos desagradáveis vão durar muito ou que os acontecimentos agradáveis vão durar pouco). Esta diferenciação é vital, uma vez que é muito fácil cair no erro de focar a consciência nos diferentes conteúdos da vida o que, fatalmente, produzirá estados interiores desagradáveis. O segredo reside na capacidade de desfrutar desapaixonadamente dos diferentes conteúdos, mantendo sempre o contexto debaixo de olho.

Uma forma de conseguir incorporar esta filosofia de vida é através da prática de uma técnica chamada de contemplação, que será tema de um próximo post.

Forte abraço!

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